sexta-feira, 21 de outubro de 2011

the cryin' day

O dia de renovar minha autorizaçao de residência sempre foi meu dia de chorar. O drama jah faz parte do meu ser, mas ele piora ainda mais quando eu me vejo submetida a um exame de "boa imigrante". Eu me sinto uma vaca, um pedaço de carne a ser avaliado, pra que "eles" decidam se eu sou boa o suficiente pra ficar no pais deles. O que é especialmente degradante quando vc acha que o pais deles tà longe de ser là essas coisas, e pohan, se enxerguem.
Enfim, pra completar minha vida de maria do bairro, as pessoas do atendimento sao super grossas.

Dai o que rola? Eu começo a sentir uma mistura de raiva, degradaçao, vontade de dizer umas verdades na cara deles... e basta ouvir um "esse documento nao serve" dito com grosseria, que eu, numa atitude muito madura, abro a boca pra chorar.


Mas esse ano eu decidi que nao ia chorar. Chega. Eles nao merecem minhas làgrimas (diria Maria do Bairro, con mucha honra).

Fui na prefeitura hoje de tarde.
Primeiro, a disgrama da funcionària implica com minha foto. E pq?! Pq eu tava com uma echarpe. Nao, nao era na frente do rosto como uma burqa.
Era uma FUCKING echarpe no pescoço que nao tampava nada.
- "Mas moça, a foto da minha autorizaçao de residência do ano passado também tem uma echarpe, olha soh".
- "Ah mas esse ano eles nao querem mais. Vc vai ter que fazer outra".
Meu, se fuder. E eu, ainda por cima, acabei de gastar 5 euros pra
tirar essa foto hoje de manha. Mas ok, liguei o foda-se.

Ela checa meus documentos. Pra nao ter problemas, meu namorado me faz uma atestaçao de "prise en charge", que quer dizer que ele assegura minha sobrevivência por aqui. O que nao é verdade pq eu trabalho e isso é soh pra eles nao
encherem o raio do saco. A gente sempre fez assim, desde o final de 2009, pq a gente sabe que eles podem implicar com qualquer coisa (por exemplo, meu atestado de residência começa em janeiro e um dos meus contratos anteriores terminava em fevereiro. Ele ia ser renovado, mas eu nao tinha nenhum documento me dando certeza disso, e eles poderiam nao aceitar.) Eu sempre achei que um atestado assinado por ele seria mais garantido.
Mas dai, tcha-tchan, ela me pergunta: "Você tem um extrato de conta? Pra comprovar que ele te dà dinheiro todo mês".
Fudeu. Claro que ele nao me dà dinheiro.
Dai eu invento uma desculpa qualquer, digo que eu trabalho mas que também sou "prise en charge", enfim com certeza ela nao acreditou pq eu vou ter que voltar là soh em dezembro e levar todos os documentos de novo. Eu aguentei firme e nao chorei. Inclusive fui educada-cinica, perguntando coisas do tipo "senhora, posso saber a razao de pedirem me extrato de conta?" com uma vozinha finiiinha. Meu foda-se tava no 150%. Nem o fato de que eles tiraram essa "regra" do rabo me abalou (pq hello, eu faço o mesmo procedimento desde 2009). Nem o fato de ela afirmar que eu TINHA que saber - e estar prevenida - que eles iam pedir o meu extrato pq no computador secreto deles tava escrito que eles iam me pedir, e se tava escrito é pq CERTAMENTE eu jà estava prevenida. Nem o fato de eu ter planejado férias na Turquia na data em que ela me deu novo rendez-vous. Nem o fato de que quando eu perguntei o que aconteceria se eu marcasse uma data em janeiro - quando minha autorizaçao de residência estaria vencida - e se eu ia ter problemas pra receber meu salàrio, ela tenha dito que o problema era meu e nao dela.

Nao me abalei. Orgulhosa de mim mesma, liguei pro meu namorado pra avisar que sifu com as férias na Turquia e me dou conta de que minha autorizaçao de residência desse ano nao tava comigo. Volto no guichê, pergunto pra funcionària - vamos chamà-la de SORAYA -, ela disse que nao està com ela. Eu refaço o caminho até onde me dei conta que nao tinha o documento, nao encontro, volto no guichê de Soraya, esvazio minha bolsa, pergunto moça o que eu faço?. Soraya vira e diz que ELA SABE QUE ME DEU O DOCUMENTO e que POR ISSO NA ESTA COM ELA. Vontade de virar uma bifa. Eu saio, refaço o caminho, volto, pergunto pras pessoas no atendimento e...
começo a chorar.


Come on, era muito pro meu controle emocional. Mas tenho certeza que foi uma armaçao da virgenzinha de guadalupe (/maria do bairro) que gosta de me ver chorar, nao é possivel.

No fim das contas, um senhor do atendimento chegou e me entregou meu documento, dizendo, vejam bem "que ALGUEM deu pra ele e ele nao sabe quem é".
Normalmente eu nao sou de acusar as pessoas assim, mas foda-se a presunçao de inocência. Certeza que foi a Soraya.

Moral da historia?

Esse povo nem deixa a gente sofrer em Paris em paz.

P.s.: Fotos meramente ilustrativas. A fila da prefeitura de Paris é diboassa se comparada com umas outras que eu jah vi por ai.