terça-feira, 31 de maio de 2011

you have a different opinion and that (should be) ok

Dia desses fui na casa de uma amiga franco-marroquina - e musulmana - que trabalha comigo, junto com outras colegas, uma delas franco-maliana e a outra francesa ("e soh"). Là pelas tantas, inevitavelmente, começou um debate sobre algumas idéias musulmanas - principalmente sobre a questao da mulher. Mas primeiro vamos dar nome aos bois, pelo menos aos personagens principais: vou chamar a franco-marroquina de N. e a francesa-bretona de G., pq seria mto toscao usar soh o referente nacional pra falar disso. G se co nsidera feminista, até ai tudo bem - eu partilho muitas das opinioes dela. O que me deixou meio que impressionada foi a maneira como ela se recusa a aceitar que N tenha uma visao diferente dela no que concerne conceitos bàsicos como "liberdade" e "igualdade", pra citar os chavões franceses. O que eu vi na conversa delas foi um ranço enorme de neocolonialismo que existe na cultura francesa. Pq o papo de "eu sou mais livre do que vc pq eu sou atéia e feminista" é super escorregadio, e dai pra "meus valores ao melhores dos que os seus" é um pulo (bem pequeno). Eu defendo valores que sao meus (e que sao inevitavelmente encharcados de pensamenos ocidento-centrista e euro-centrista) mas eu me sinto capaz de aceitar o fato de que alguém pode ter uma idéia do mundo totalmente diversa da minha, sem pensar que a evoluçao/ progresso natural da humanidade vai levar essa pessoa a pensar como eu. E principalmente, quem sou eu pra julgar os valores culturais dos outros? Eu sei que isso tomba pro relativismo, e isso é meio que inevitàvel - mas entre o relativismo e o universalismo, qual a melhor nuance? Eu me recuso a crer em papos do tipo "olha, minha filha, isso que vc chama de pudor, eu chamo de submissao... vem aqui que eu vou te emancipar, vem". Universalismo é tao perigoso, e a filosofia politica nao largou o osso até hoje - o que dà uma sensaçao de que academia nao serve pra nada mesmo. Serà que nao dà pra pensar uma forma de relativismo que seja rigida em relaçao a valores bàsicos? Sei là, multilar mulheres (soh pra citar um exemplo) nunca vai ser algo que eu venha a defender. Entao é complicado - como qualquer posiçao que tenda a um extremo.
Por falar em extremos, os da conversa foram bem estranhos. N sabe muito bem se defender, e a partir de um certo momento (acho que de saco cheio de G ser incapaz de tentar entender algo sem impor suas proprias categorias), disse algo como "ok, vou falar da mesma maneira que vc entao: todas as ocidentais sao putas, piranhas. Se vc acha que o que é diferente de vc é submissao, eu acho que o que é diferente de mim é putaria". Claro que ela nao tava falando sério, mas foi uma forma caricatural de mostrar que o "universalismo" tb pode existir do outro lado, ora bolas. Enfim, G apelou um pouco e chorou (!) e quis ir embora (!!) mas depois ficou tudo bem. Mas essa mania deles, francesinhos, de acharem que seus valores sao universais é foda - vide o fato de que qualquer um deles defenderà ferrenhamente a tal "laicidade" francesa, sem conseguir enchergar o quanto essa laïcidade é muito propria a uma certa "visao francesa" do mundo (que hje deriva pra islamofobia), e nao é, nao mesmo, uma visao neutra em relaçao às religioes.
E fiquei pensando, também (e pela reaçao apelativa dacolega) no quanto minha host estava certa quando me disse que Astérix é A cultura francesa em forma de desenho: a convicçao de estarem certos os leva a nao aceitarem perder. O que nao quer dizer que eles estejam certos de fato, mas que explica o por quê de eles serem tao mal perdedores - em discussoes e em jogos, mas talvez em revoluçoes também. RYZAS.