Tem gente que nao acredita quando eu falo que minha vida é uma novela mexicana. Mas é sério! Depois de sofrer mais que a Maria do Bairro com a prefeitura de policia, agora o roteiro mudou.
Soh que primeiro eu tenho que explicar o contexto, entao senta que là vem a historia:
Eu trabalho desde setembro como "assistente" (~secretària) de uma assistente social que é cega. Vàrios documentos que ela recebe nao estao em braile, entao eu leio pra ela, e também a ajudo quando ela precisa escrever alguma coisa - embora ela seja super autônoma e o pc dela tenha sintetizador vocal. Tem vàrias coisas que ela escreve sozinha, principalmente notas pessoais que ninguém mais vai ler; quando sao cartas, ela pede pr'eu ver se tem erros, e quando ela precisa fazer relatorios ela prefere me ditar do que escrever sozinha (cada um tem seu processo de escrita né, tem gente que nao suporta escrever diretamente no pc). Enfim, fora essas atividades de leitura/ escrita, eu também ajudo a calcular ajudas sociais. Trabalhamos numa escola profissionalizante de ensino médio e alguns alunos podem ter ajuda com os custos do transporte, da cantina, etc. Mesmo que o Sarkozy tenha reduzido drasticamente essa ajuda, ela ainda existe. Ela recebe alunos que tem algum tipo de problema (social, familiar, etc) e embora eu nao esteja presente nesse momento eu obviamente fico sabendo dos casos, jah que ajudo ela a escrever os relatorios e etc. Quando ela falta e algum aluno vai procurà-la, acontece de às vezes eles se confiarem a mim, mesmo sabendo que eu nao sou a assistente social. Eu nao dou nenhum conselho nem tomo nenhuma providência séria, apenas tomo nota pra poder contar depois pra minha chefe, que vai depois convocar o aluno pra saber melhor o que està acontecendo. Enfim, minha chefe nunca pareceu ser contra isso. Acontece que ela precisou fazer uma operaçao e se ausentar por um mês e meio, ela volta no começo de fevereiro. Até là, eu tenho cumprido meus horàrios mesmo se nao tem muita coisa pra fazer - algumas coisas administrativas eu posso adiantar, mas outras, como os relatorios, eu nao estou habilitada a fazer. Alguns alunos foram me ver, mas bem poucos. Acontece que ontem veio uma menina cujo caso é bem grots. Hà vàrios casos grots, mas o dela é o pior de todos. Nao vou dar os detalhes aqui, eu juro que nao é fofoca pela metade (que eu acho abominàààvel!), mas é que é meio anti-ético contar isso num blog.
Ontem ela foi me ver pra me contar que tinha faltado no estàgio obrigatorio e que ela nao queria mais voltar pra casa. Ela disse que nao se sente bem em casa e que nao adianta anda ir ao estàgio se ela nao està bem. Liguei pro estàgio pra justificar a falta dela, mas fora isso ela insistia que nao ia voltar pra casa e ia dormir na rua. O que eu podia fazer? Fiquei meio desesperada, sério. Liguei pro enfermeiro escolar, pq ele pode eventualmente tomar providências (os tais relatorios) e, ora bolas, pq ele é um profissional e sabe lidar com situaçoes assim. Ele chegou à tarde, mas a menina nao quis contar muita coisa pra ele. Eu contei em off - eu sei que existe o "segredo profissional", mas eu estava sozinha e precisava de conselhos - mas como nao foi ela mesma que contou, ele nao poderia fazer muita coisa. Ele me aconselhou de ligar pra uma instância superior, tipo a chefe das assistentes sociais escolares. Liguei e contei o caso todo. Dai a muher ficou mais preocupada com o fato de EU estar trabalhando no escritorio da minha chefe ausente, do que com o caso da menina! O caso da menina, que tava ameaçando DORMIR NA RUA e é menor de idade, ela resolver rapidinho: nao podemos mandar assistentes sociais pra vcs, se vira nos 30 ai com o enfermeiro. Mas o meu caso, nossa, que absurdo que eu estava recebendo alunos!! Disse pra ela que os alunos sabem que eu nao sou a assistente social, e que isso de eles irem ao escritorio era muito pontual. Mas ela ficou cabreira, ligou pro enfermeiro pra que ele faça o relatorio sobre o caso da menina, e claro, pra comentar que nao era normal o que eu estava fazendo, sobretudo pq eu ficava sabendo de casos "confidenciais". O enfermeiro, super charmosao aliàs, veio me ver e me aconselhou a nao receber mais alunos - nao que ele achasse errado, aliàs ele disse que eu agi bem no caso dessa menina, mas pq isso podia dar problema pro meu lado. Eu poderia ser acusada de me passar pela assistente social, e eu poderia ser condenada por usurpaçao de cargo!
OMFG!
Osso, hein. Ia ser dificil uma coisa tao séria acontecer, mas a palavra "usurpadora" ficou ecoando na minha cabeça. Fui junto com o enfermeiro conversar com o diretor da escola sobre "minha situaçao", e ele meio que tava se lixando pro que a chefona das assistentes sociais estava pensando. Ele disse que poderia eventualmente me repreender se eu soubesse do que acontecia com a menina e nao tivesse feito nada, o que nao foi o caso. E perguntou pro enfermeiro se a tal chefona tava sabendo que minha chefe é cega e eu eventualmente tenho orelhas e vou ficar sabendo dos casos, ora bolas. Isso tranquilizou todo mundo, inclusive o enfermeiro que tava preocupado com o que poderia acontecer.
No final das contas eu fui embora sem saber direito o que aconteceu com a menina, pq o enfermeiro fez um reatorio pra Brigada de Menores mas ainda nao tinha uma resposta concreta.
Hoje minha chefe ligou. Como ela tinha operado, eu tava esperando ela fazer contato primeiro. Contei o caso e ela ficou puta com a chefona. Realmente é idiotice, mas enfim, também é verdade que eu nao sou habilitada, e eu nao quero que o meu fique na reta. Agora nao vou mais receber alunos enquanto ela estivera usente, o que quer dizer que eu tenho ainda menos coisa pra fazer do que antes. Mas enfim, eu perguntei pro diretor o que eu podia fazer e ele disse "nada", entao agora eu estou legitimamente fazendo nada de 09h30 às 14h.
Pra ler ouvindo: