"casa", e que eles - imigrantes e descendentes - usam quando dizem que vao pro pais de origem: "vou passar minhas férias no bled". Ou seja, de certa forma, a ligaçao com esse lugar de origem é forte - é a "casa" - pq eles nao se sentem integrados. Mas isso é outro assunto. Também adoro clebs (cachorro), que também vem do àrabe. E pra nao dizerem que eu fico puxando sardinha pro meu devir marroquina, também adoro mytho, mentiroso, que na verdade é abreviaçao de mythomane: mitômano. Parece palavra dificil, mas todos os adolescentes falam, e eu acho hilàrio: "você nao passa de um mytho!"
*Em relaçao aos sotaques. Uma vez um professor - de inglês - alertou a turma pra pronùncia de tal palavra (nem lembro qual), dizendo que, se a gente a pronunciasse de tal forma, as pessoas imediatamente saberiam de onde a gente é. Dai eu pensei, poxa, qual o problema disso? Eu tenho orgulho de onde eu venho. Quando os alunos no colègio riam de algum erro, eu repetia a mesma coisa - eu tenho orgulho de ser estrangeira. Mas é inevitàvel me sentir frustrada por às vezes confundir "in" e "an" - eu acho o som super parecido (foneticamente: [ɛ] e [ã]), mas pra eles é super diferente. E, pessoalmente, eu acho sotaque desleixado muito feio.
O outro lado da moeda é que os franceses tendem a achar que a lingua é deles, e que o sotaque é dos outros: dos canadenses, por exemplo, ou dos descendentes de imigrantes - que nasceram aqui e muito francês tem a coragem de comentar que ele tem um "sotaque estrangeiro" - se ele nasceu aqui, e se ele tem o francês como lingua-mãe, dizer que ele tem sotaque é o mesmo que retirar o direito dessa pessoa a ter uma lingua. E a lingua é dinâmica, ela nao é de ninguem, como pensam os franceses em um eterno delirio narcisista. Eh digno de nota que, quando um francês quer te atacar sutilmente, seja por brincadeira, seja por provocaçao, seja por maldade, ele te ataca pela lingua: "isso que vc disse nao é francês" (e muitas vezes EH, e eles dizem que nao pq sao fdp mesmo).
Mea culpa: eu jah utilisei o francês como forma de exclusão social, com uma menina que eu nao tinha ido com a cara. A sujeita vira pra mim e diz "eu jamais viria de au pair, trabalhar de mao de obra barata", soh faltou um "eca!". E como estàvamos entre franceses, e ela tinha chegado a pouco tempo, passei o tempo todo falando francês, o que de certa forma fez com que as outras pessoas também falassem (embora soubessem português), e ela ficou boiando na conversa
Mas ela mereceu.