quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

3 anos na França!

Hoje faz três anos que eu estou na França. Nao é a melhor das épocas pra se escrever um post sobre isso, pq com as ultimas estripulias eleitoralistas da direita francesa eu so tenho vontade de dizer Grandma take me home!.




Eu nunca tive ilusoes muito Disney acerca da França. Talvez eu tivesse sobre a Europa, essa coisa de conhecer o palco de revoluçoes, berço da civilizaçao ocidentalzzzzzzzROINC. Eu digo "talvez" pq a gente tende a romantizar o passado, pensar que a gente no fundo sempre pensou da mesma forma e queremos esquecer as partes mais feinhas, quando fizemos coisas que hoje achariamos uo. Entao eu acho que sublimei isso de ter pensado que a Europa é bacana, mas eu tenho bastante certeza que nunca tive isso pela França. Acho que é pq eu sempre odiei paga-pau da França, aquele povo que anda com boina-e-echarpe no verão tupiniquim. Minha relaçao hoje com a terra da frescura é diferente, mas por agora eu vou apenas contar como eu vim parar aqui.

No final de 2008 eu estava terminando minha graduaçao e tinha muita vontade de morar fora. Eu estava no limbo de nao ter vontade de tentar mestrado de cara e, ao mesmo tempo, eu tinha um projeto de estudos que envolvia o pensamento francês oitocentista. E eu nao falava necas de francês, ou seja, tinha uma otima desculpa pra morar fora durante o ano jà que nenhum cursinho de linguas se compara à vivência dela. Como qualquer pessoa sem paitrocinio, a melhor opçao era ser au pair.

Entao em fevereiro de 2009 eu fui parar em Compiègne, a cidade onde a Joana D'Arc foi presa (e isso é tudo o que vc precisa saber sobre Compiègne). Falando um francês sofrivel e cuidando de quatro crianças. Morando com uma familia "meio intelectual meio de esquerda" mas muito tradicional - pais dando safanoes nas kiança pq elas nao se portavam bem à mesa e coisas nesse nivel. Eles eram bacanas, mas... Sempre tem um "mas". Ser au pair é ruim, mesmo quando é bom. Eu acho, de verdade, que nao poderia ter achado uma familia melhor - eu era relativamente bem paga, e eles super me incentivaram a fazer mestrado e se viraram pra achar alguém quando eu fui aceita na faculdade (a principio eu tinha um contrato de um ano com eles e acabei ficando soh seis meses). Mas... eles nao eram minha familia. Mas... eu me sentia super mal sendo uma babà com diploma superior. Eu acho super vàlido ser au pair, mas eu sempre aviso isso : é ruim mesmo quando é bom.

Minha universidade era em Paris entao eu tive que procurar emprego e lugar pra morar por aqui. Trabalhei numa sorveteria - mas soh por um mês pq era "summer job" - , depois num restaurante (eu era tipo uma recepcionista), mas acabei sendo au pair de novo pq tava dificil arrumar lugar pra morar e meio que tive medo de nao dar conta do combo estudos + trabalho + contas pra pagar. Te contar que o medo nao é um bom conselheiro, soh fiquei três meses na familia e sai batendo a porta - a mae era loca loca loca, mas acima de tudo eu aprendi que eu nunca vou deixar as pessoas me tratarem como se eu fosse uma morta de fome do terceiro mundo. De certa forma eu me orgulho de ter peitado a mae em vàrias ocasioes por causa disso. Depois eu fui trabalhar como disciplinària num colégio, com adolescentes entre 11 e 15 anos. Sinceramente, hoje eu penso que eu dei muita sorte e que a mulher que me contratou foi muito com a minha cara (ou estava muito desesperada pra achar alguém), pq quando eu cheguei no colégio eu nao tinha um francês nivel "discutir com adolescente"- o que é bem diferente de "falar bem" pq envolve dar respostas ràpidas, entender girias, explicar regras pra quem nao tem nenhuma boa vontade de escuta-las. E separar brigas, confiscar celulares, expulsar as meninas do banheiro durante o intervalo, especialmente no inverno (elas ficam grudadas no aquecedor, espertinhas). Aprender isso na marra foi dificil, até pq ele sao malvados e desde que eu errava alguma coisa ele diziam que eu nao falava francês. Mas hoje eu acho que foi bom. Fiquei um ano e meio nesse colégio, nao tenho nenhuma saudade de ter que gritar pros alunos se enfileirarem pra entrar em sala ou de ter que manter uma sala (ou mais de uma) em silêncio nas "salas de permanência", que é onde eles iam durante os horàrios vagos com moizinha ou uma de minhas colegas tomando conta. Porém tenho uma certa saudade das "kianças". Tenho fé que algumas se tornarão pessoas realmente bacanas.

Me perdi no relato, né. Quando eu sai da familia louca eu vim morar com meu namorado "por um mês" - a gente nem estava junto a muito tempo e era fueda chegar chegando e acampando, né. Entao acertamos que eu ficaria um mês, mas eu fui ficando nos meses seguintes pq a coisa acabou dando certo, mas eu me mudei em janeiro e soh em setembro eu passei a morar oficialmente, sem essa coisa de "ok, fico mais um mês".

E no meio disso tudo, ufa, os estudos. Mas isso é outro assunto, pq envolve tanta coisa... Em resumo, envolve ter feito um curso teorico durante cinco anos e ter sempre visto a vida acadêmica como uma coisa natural, e depois mudar de idéia no meio do mestrado. E nao sei se existe vida para além da academia. Quem é que quer uma cientista social no mercado de trabalho? Ninguém, certo? Pois é, assunto longo e chato e deprimente, fica pra proxima.