Hoje faz três anos que eu estou na França. Nao é a melhor das épocas pra se escrever um post sobre isso, pq com as ultimas estripulias eleitoralistas da direita francesa eu so tenho vontade de dizer Grandma take me home!.
Eu nunca tive ilusoes muito Disney acerca da França. Talvez eu tivesse sobre a Europa, essa coisa de conhecer o palco de revoluçoes, berço da civilizaçao ocidentalzzzzzzzROINC. Eu digo "talvez" pq a gente tende a romantizar o passado, pensar que a gente no fundo sempre pensou da mesma forma e queremos esquecer as partes mais feinhas, quando fizemos coisas que hoje achariamos uo. Entao eu acho que sublimei isso de ter pensado que a Europa é bacana, mas eu tenho bastante certeza que nunca tive isso pela França. Acho que é pq eu sempre odiei paga-pau da França, aquele povo que anda com boina-e-echarpe no verão tupiniquim. Minha relaçao hoje com a terra da frescura é diferente, mas por agora eu vou apenas contar como eu vim parar aqui.
No final de 2008 eu estava terminando minha graduaçao e tinha muita vontade de morar fora. Eu estava no limbo de nao ter vontade de tentar mestrado de cara e, ao mesmo tempo, eu tinha um projeto de estudos que envolvia o pensamento francês oitocentista. E eu nao falava necas de francês, ou seja, tinha uma otima desculpa pra morar fora durante o ano jà que nenhum cursinho de linguas se compara à vivência dela. Como qualquer pessoa sem paitrocinio, a melhor opçao era ser au pair.
Entao em fevereiro de 2009 eu fui parar em Compiègne, a cidade onde a Joana D'Arc foi presa (e isso é tudo o que vc precisa saber sobre Compiègne). Falando um francês sofrivel e cuidando de quatro crianças. Morando com uma familia "meio intelectual meio de esquerda" mas muito tradicional - pais dando safanoes nas kiança pq elas nao se portavam bem à mesa e coisas nesse nivel. Eles eram bacanas, mas... Sempre tem um "mas". Ser au pair é ruim, mesmo quando é bom. Eu acho, de verdade, que nao poderia ter achado uma familia melhor - eu era relativamente bem paga, e eles super me incentivaram a fazer mestrado e se viraram pra achar alguém quando eu fui aceita na faculdade (a principio eu tinha um contrato de um ano com eles e acabei ficando soh seis meses). Mas... eles nao eram minha familia. Mas... eu me sentia super mal sendo uma babà com diploma superior. Eu acho super vàlido ser au pair, mas eu sempre aviso isso : é ruim mesmo quando é bom.
Minha universidade era em Paris entao eu tive que procurar emprego e lugar pra morar por aqui. Trabalhei numa sorveteria - mas soh por um mês pq era "summer job" - , depois num restaurante (eu era tipo uma recepcionista), mas acabei sendo au pair de novo pq tava dificil arrumar lugar pra morar e meio que tive medo de nao dar conta do combo estudos + trabalho + contas pra pagar. Te contar que o medo nao é um bom conselheiro, soh fiquei três meses na familia e sai batendo a porta - a mae era loca loca loca, mas acima de tudo eu aprendi que eu nunca vou deixar as pessoas me tratarem como se eu fosse uma morta de fome do terceiro mundo. De certa forma eu me orgulho de ter peitado a mae em vàrias ocasioes por causa disso. Depois eu fui trabalhar como disciplinària num colégio, com adolescentes entre 11 e 15 anos. Sinceramente, hoje eu penso que eu dei muita sorte e que a mulher que me contratou foi muito com a minha cara (ou estava muito desesperada pra achar alguém), pq quando eu cheguei no colégio eu nao tinha um francês nivel "discutir com adolescente"- o que é bem diferente de "falar bem" pq envolve dar respostas ràpidas, entender girias, explicar regras pra quem nao tem nenhuma boa vontade de escuta-las. E separar brigas, confiscar celulares, expulsar as meninas do banheiro durante o intervalo, especialmente no inverno (elas ficam grudadas no aquecedor, espertinhas). Aprender isso na marra foi dificil, até pq ele sao malvados e desde que eu errava alguma coisa ele diziam que eu nao falava francês. Mas hoje eu acho que foi bom. Fiquei um ano e meio nesse colégio, nao tenho nenhuma saudade de ter que gritar pros alunos se enfileirarem pra entrar em sala ou de ter que manter uma sala (ou mais de uma) em silêncio nas "salas de permanência", que é onde eles iam durante os horàrios vagos com moizinha ou uma de minhas colegas tomando conta. Porém tenho uma certa saudade das "kianças". Tenho fé que algumas se tornarão pessoas realmente bacanas.
Me perdi no relato, né. Quando eu sai da familia louca eu vim morar com meu namorado "por um mês" - a gente nem estava junto a muito tempo e era fueda chegar chegando e acampando, né. Entao acertamos que eu ficaria um mês, mas eu fui ficando nos meses seguintes pq a coisa acabou dando certo, mas eu me mudei em janeiro e soh em setembro eu passei a morar oficialmente, sem essa coisa de "ok, fico mais um mês".
E no meio disso tudo, ufa, os estudos. Mas isso é outro assunto, pq envolve tanta coisa... Em resumo, envolve ter feito um curso teorico durante cinco anos e ter sempre visto a vida acadêmica como uma coisa natural, e depois mudar de idéia no meio do mestrado. E nao sei se existe vida para além da academia. Quem é que quer uma cientista social no mercado de trabalho? Ninguém, certo? Pois é, assunto longo e chato e deprimente, fica pra proxima.
Eu nunca tive ilusoes muito Disney acerca da França. Talvez eu tivesse sobre a Europa, essa coisa de conhecer o palco de revoluçoes, berço da civilizaçao ocidentalzzzzzzzROINC. Eu digo "talvez" pq a gente tende a romantizar o passado, pensar que a gente no fundo sempre pensou da mesma forma e queremos esquecer as partes mais feinhas, quando fizemos coisas que hoje achariamos uo. Entao eu acho que sublimei isso de ter pensado que a Europa é bacana, mas eu tenho bastante certeza que nunca tive isso pela França. Acho que é pq eu sempre odiei paga-pau da França, aquele povo que anda com boina-e-echarpe no verão tupiniquim. Minha relaçao hoje com a terra da frescura é diferente, mas por agora eu vou apenas contar como eu vim parar aqui.
No final de 2008 eu estava terminando minha graduaçao e tinha muita vontade de morar fora. Eu estava no limbo de nao ter vontade de tentar mestrado de cara e, ao mesmo tempo, eu tinha um projeto de estudos que envolvia o pensamento francês oitocentista. E eu nao falava necas de francês, ou seja, tinha uma otima desculpa pra morar fora durante o ano jà que nenhum cursinho de linguas se compara à vivência dela. Como qualquer pessoa sem paitrocinio, a melhor opçao era ser au pair.
Entao em fevereiro de 2009 eu fui parar em Compiègne, a cidade onde a Joana D'Arc foi presa (e isso é tudo o que vc precisa saber sobre Compiègne). Falando um francês sofrivel e cuidando de quatro crianças. Morando com uma familia "meio intelectual meio de esquerda" mas muito tradicional - pais dando safanoes nas kiança pq elas nao se portavam bem à mesa e coisas nesse nivel. Eles eram bacanas, mas... Sempre tem um "mas". Ser au pair é ruim, mesmo quando é bom. Eu acho, de verdade, que nao poderia ter achado uma familia melhor - eu era relativamente bem paga, e eles super me incentivaram a fazer mestrado e se viraram pra achar alguém quando eu fui aceita na faculdade (a principio eu tinha um contrato de um ano com eles e acabei ficando soh seis meses). Mas... eles nao eram minha familia. Mas... eu me sentia super mal sendo uma babà com diploma superior. Eu acho super vàlido ser au pair, mas eu sempre aviso isso : é ruim mesmo quando é bom.
Minha universidade era em Paris entao eu tive que procurar emprego e lugar pra morar por aqui. Trabalhei numa sorveteria - mas soh por um mês pq era "summer job" - , depois num restaurante (eu era tipo uma recepcionista), mas acabei sendo au pair de novo pq tava dificil arrumar lugar pra morar e meio que tive medo de nao dar conta do combo estudos + trabalho + contas pra pagar. Te contar que o medo nao é um bom conselheiro, soh fiquei três meses na familia e sai batendo a porta - a mae era loca loca loca, mas acima de tudo eu aprendi que eu nunca vou deixar as pessoas me tratarem como se eu fosse uma morta de fome do terceiro mundo. De certa forma eu me orgulho de ter peitado a mae em vàrias ocasioes por causa disso. Depois eu fui trabalhar como disciplinària num colégio, com adolescentes entre 11 e 15 anos. Sinceramente, hoje eu penso que eu dei muita sorte e que a mulher que me contratou foi muito com a minha cara (ou estava muito desesperada pra achar alguém), pq quando eu cheguei no colégio eu nao tinha um francês nivel "discutir com adolescente"- o que é bem diferente de "falar bem" pq envolve dar respostas ràpidas, entender girias, explicar regras pra quem nao tem nenhuma boa vontade de escuta-las. E separar brigas, confiscar celulares, expulsar as meninas do banheiro durante o intervalo, especialmente no inverno (elas ficam grudadas no aquecedor, espertinhas). Aprender isso na marra foi dificil, até pq ele sao malvados e desde que eu errava alguma coisa ele diziam que eu nao falava francês. Mas hoje eu acho que foi bom. Fiquei um ano e meio nesse colégio, nao tenho nenhuma saudade de ter que gritar pros alunos se enfileirarem pra entrar em sala ou de ter que manter uma sala (ou mais de uma) em silêncio nas "salas de permanência", que é onde eles iam durante os horàrios vagos com moizinha ou uma de minhas colegas tomando conta. Porém tenho uma certa saudade das "kianças". Tenho fé que algumas se tornarão pessoas realmente bacanas.
Me perdi no relato, né. Quando eu sai da familia louca eu vim morar com meu namorado "por um mês" - a gente nem estava junto a muito tempo e era fueda chegar chegando e acampando, né. Entao acertamos que eu ficaria um mês, mas eu fui ficando nos meses seguintes pq a coisa acabou dando certo, mas eu me mudei em janeiro e soh em setembro eu passei a morar oficialmente, sem essa coisa de "ok, fico mais um mês".
E no meio disso tudo, ufa, os estudos. Mas isso é outro assunto, pq envolve tanta coisa... Em resumo, envolve ter feito um curso teorico durante cinco anos e ter sempre visto a vida acadêmica como uma coisa natural, e depois mudar de idéia no meio do mestrado. E nao sei se existe vida para além da academia. Quem é que quer uma cientista social no mercado de trabalho? Ninguém, certo? Pois é, assunto longo e chato e deprimente, fica pra proxima.
6 comentários:
eu pensei muito seriamente em morar na França, passei apenas um período aí. a questão do trabalho pesou, tb achava complicado ter curso superior etc e ser babá. acho que é válido por um tempo, mas depois acabamos nos cobrando... nada contra nenhuma profissão, qq trabalho é digno, mas qdo ralamos nos estudos 5,7,10 anos, é natural querer fazer uso disso...e tb pq meu namoro aí deu errado, haha, aí eu optei pelo Brasil mesmo. mas acho uma experiência incrível e admiro muito quem mora fora.
Martha me vi no seu post!
Eu fui au pair por 18 meses e olha grande parte da minha dificuldade com as familias (fora costumes bizarros e gente louca) foi com o fato de que eu nao queria ser uma cleaner pos graduada ou uma baba especialista em projeto de web. Nao quero soar arrongante, mas eu ouvi muita abobrinha, desde de pessoas explicando se eu sabia usar um microondas (se ja tinha visto) ou dizendo que se eu tivesse vindo de um pais mais evoluido eu nao estaria correndo atras de estudar. Nao com essas palavras mas com essa ideia. E por isso eu acho que o conto de fadas se desmanchou muito cedo. Hoje em dia, depois de 3 anos eu tenho uma vida legal por aqui, a custo de muitos traumas acho.
Meu namorado na epoca, hoje marido me buscou em uma das familias, e o que deveria ser temporario durou 9 meses e terminou em um casamento. Mas nao esqueco o que ele fez por mim me buscando de mala e cuia e peitando a familia louca que eu estava trabalhando a 1 mes no meio do nada.
Anos melhores e boas experiencias viram. Gostei muito do seu post.
beijos
Oi meninas,
Obrigada pelos comentàrios.
Pois é, o lado muito ruim de "au pair" é que vc conhece um lado muito podre das pessoas. A gente mora com elas, né, entao os defeitos ficam muito saliente - nem precisa ser escrotisses do tipo achar que somos mortas de fome, minha primeira familia nunca teve disso, mas soh de ter que se acostumar a hàbitos da cultura alheia jà é muito chato - eu acho que isso ajuda, por outro lado, a nao ser deslumbrada. Embora tenha gente que nem assim deixa de achar que tà na Disney, mas enfim. Mas tem que ter realmente um objetivo em vista, pq senao é muito dificil de aguentar a situaçao. No inicio eu nao tinha idéia de fazer mestrado, foi a familia que me incentivou um tempo depois (eles sao realmente bacanas nesse sentido), mas até ter esse objetivo em vista eu me sentia realmente uma babà com diploma, de um jeito meio degradante. Eu nao tenho nada contra ser babà, a questao é que eu simplesmente nao estudei pra isso e nao tinha isso como objetivo de vida.
Enfim, tô trabalhando em outro lugar etc e tal, bem melhor, mas continua sendo um "job". Sina da minha vida é saber o que fazer depois do mestrado, mas a unica certeza que eu tenho é que eu nao quero mais viver de jobs (inshalà que eu nao precise mais).
E sim, Simone, novas e boas experiências virão! Para todas :)
Que legal sua historia, Martha. Conta mais sobre as peitadas na mae malucona! =)
Nirvana... Ahhh.... Nirvana!!!
Nossa, ser aupair é realmente muito dificil. Morar com as pessoas é difícil, fico pensando que tem tensoes coma família mesmo, q vc ama e tem liberdade de xingar e depois fazer as pazes... mas com os outros é difícil. E tem o fato de nao ser a sua casa. Pq nao importa o qto digam q vc será parte da família, nao é verdade, mesmo pq é praticamente impossível. Quais as chances de vc ir pra uma família e se dar super mega bem a ponto de ficar tao íntima? Não, não... E essa de misturar trabalho com relações pessoais, muito complicado.
Luana, eu nem gosto de lembrar dessa época da minha vida hahaha. Mas sei là, ela vinha me falar algo num tom de voz alto, eu respondia no mesmo tom. Mas o cumulo foi o seguinte: eu comecei a trabamhar là no meio de setembro, final de setembro recebi metade do salàrio (OK). Dai em outubro, NO DIA 31, ela me diz que tava com dificuldade financeira e que ia diminuir meu salàrio (que a gente tinha acertado que era 450€). Dai perguntei quanto, ela disse 350. Eu disse que era muito pouco e que ia pensar. Obviamente eu assumi que isso seria vàlido a partir do mês seguinte, dai ela foi viajar e disse que ia deixar o pagamento de outubro em cima da geladeira, eu chego da faculdade e encontro 350€!
Eu liguei pra ela, muito puta. Quando ela chegou a discussao continuo, ela me diz que NAO TINHA ESPECIFICADO a partir de que mês o novo pagamento ia valer! Eu falei que era simplesmente desonesto e que eu tinha trabalhado um mês inteiro sob o acordo do primeiro valor, e nao do outro. Enfim, claro que ela me pagou a diferença depois, mas eu falei que de todo jeito eu ia sair. Dai ela me pediu pra ficar até o meio de dezembro, com salàrio de 400/mês, e eu topei pq ela me deixou usar o endereço dela pra renovar meu visto - tava justamente na época de ir na prefeitura e sem endereço ia ser fueda, né. Mas enfim, teve outras coisas, mas isso foi a gota d'àgua.
Olévia, eu acho que O PIOR de au pair é misturar casa/relaçoes pessoais e trabalho. Lembro que no colégio onde eu trabalhava, principalmente nos primeiros meses, rolavam uns conflitos que me deixavam meio tenso - mas a sensaçao de atravessar o portao do colégio e deixar todos aqueles conflitos PARA TRAS era excelente. Eu tava indo pra casa, que nao tinha nada a ver com aquele trabalho! Era libertador, hahaha.
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