segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

da série: Faye Valentine

Tà fazendo um ano que a gente adotou a Faye! A gente foi busca-la na Sociedade Protetora dos Animais, e ela começou a ronronar quando a gente chegou perto da gaiola dela... Nao resistimos a tanto charme. Bom, depois a gente viu que ela realmente ronrona muito (até quando eu converso com ela, ela ronrona!), mas prefiro acreditar que é porque a gente é especial hahaha. Mas na época da adoçao, apesar de ter esse lado de gostar de carinho, ela era tb bem medrosa e muito selvagem -talvez por ter sido maltratada, mas a gente nao conhece o passado dela. Outro dia achamos os papéis da adoçao e entre os "avisos" tava escrito: "[gato] a educar; risco de arranhoes e danos materiais" hahaha!
Hoje ela nem parece mais a gatinha que vivia se escondendo de medo e que arranhava como quem dà bom dia. Ela foi ficando muito mais carinhosa, embora pra vir no colo tenha que ser do jeito DELA - quando ela quer, obviamente. E nao pode ser de qualquer jeito: ela soh vem no meu colo se eu estiver sentada na cama com as pernas esticadas - o que eu faço quando estou lendo algo no pc. Dai, quando ela quer colo, ela pede: vem do meu lado miar, ou coloca as patinhas em cima da minha perna pra eu tirar o pc de là, ou tenta vir toda desengonçada por cima do pc mesmo. Me disseram que pedir colo é coisa mais de cachorro do que de gato, e eu acho que ela tem alguns transtornos de personalidade. Quando ela quer acordar a gente, miando insistentemente, às vezes ela solta uns miados que soam mais como au-au (juro!). E de vez em quando, quando quer colo, ela vem "correndo" quando vê que eu coloquei o pc de lado e que a perna està livre, haha.


Outro indicio de problema de personalidade: no caso dessa foto, a reaçao dela quando a gente chega em casa parece mais com a do cachorro do que com a do gato... Ela fica miando atràs da porta, e quando a gente abre, primeiro ela faz charminho (ela é um gato, final de contas) mas depois volta miando e pedindo carinho.



Faye, vc é nosso gato preferido em todo o mundo e terà sempre privilégios de filhote mais velho, no caso a gente venha a ter outro gato, um cachorro, ou eventualmente um humano -este caso està bem longe de acontecer, de todo jeito.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

eye of the tiger

Eye of the Tiger é inevitavelmente associada a Rocky, mas pra mim ela se tornou significativa por causa de Persépolis. Pra quem nao conhece, é um filme sobre uma iraniana que cresce durante os primeiros anos da Revoluçao Iraniana, depois vai estudar na Austria, e depois de "umas coisas ai" (nao vou contar né, gente), volta pro Irã... pra depois partir de novo. O filme tem um pano de fundo muito esclarecedor sobre a situaçao no Irã, mas a historia da Marjane, sua situaçao de expatriada, a volta dificil ao pais, tudo isso é muito universal - acho muito, muito bonito quando o pai dela diz, antes de ela ir pra Austria, "nao se esqueça nunca quem você é e de onde você vem"*.

E serve pra todo mundo né, e como serve!

Eye of the Tiger é usado no filme quando ela jah està de volta ao Irã, meio deprimida, e decide se reerguer, seguir em frente. Num espirito bem "survivor", mesmo. Mas o que eu mais gosto é de ela ter cantado essa musica com sotaque. No cd da trilha do filme ela é cantada "normalmente", mas durante o filme é de uma forma bem amadora (preparem os ouvidos). E o sotaque. Pra mim é sensacional, por causa dessa leitura da "condiçao do estrangeiro" que pode ser feita do filme -durante a sequência da musica ela està de volta ao Irã, mas existe toda aquela questão de que, uma vez que a gente se expatria, a gente se torna também estrangeiro em nossa propria terra.


Nao sei se foi em tudo isso que ela pensou quando quis colocar esse sotaque na musica, mas é nisso que eu penso, nesse "ser estrangeiro" que tem também muito de ser survivor, de matar um leão por dia. Pra cada um de uma forma diferente, com pos e contras diferentes, mas é sempre dificil.

Pelo menos pra quem nao vive em comercial de margarina ;o)

E aqui, um trailerzinho do filme com a musica, dessa vez bem afinadinha. Achei lindo:






* Na verdade eu sei que essa frase do pai dela està no livro, mas nao lembro se tem no filme.
Eu li o livro antes, e como sempre, vale muito a pena e é mais completo que o filme. Aliàs eu conheci meu namorado na época em que estava lendo, nem foi de proposito, rs. Ele é franco-iraniano.

domingo, 22 de janeiro de 2012

se o cara nasce mané, cresce mané


Tem um texto bombando por ai, sobre razoes pra ficar na Europa ou voltar pro Brasil. Nao vou linkar pq nao tenho razoes nem vontade pra isso, o texto me deixou puta. Eu sou muito (muito) dramàtica nas minhas reaçoes, do tipo discutir com o dedo em riste, e gente pau no cu é uma coisa que me deixa com sangue nos zoio.

(a pessoa escreve falando da Espanha, mas a coisa virou meio que um antagonismo generalizado Brasil x Europa, entao vou usar o genérico "Europa" aqui, pra nao ficar confuso)


Mas enfim, pq toda essa minha furia? Vamos tentar racionalizar todo esse odeo no coraçao.

Em primeiro lugar pq eu nao suporto gente que descreve a vida como se fosse um clipe de musica indie romântico. Graminha verde, gente cool and moderna, tudo muito lindo, tudo muito disney.


Tem a ver com o que a gente quer enxergar e - sobretudo, eu acho -, de como a gente quer que os outros vejam a nossa vida. E essa coisa Disney é meio hierarquizante, sabe? De uma certa forma quando vc elege um modo de vida como O modo perfeito, é como se todos os outros fossem inferiores. Isso vale pra quem enche a boca pra falar da Europa, como pra quem acha que o Brasil é perfeito. Assim como eu nao gosto de gente que acha que tà na Disney, tb nao gosto de gente que soh pensa em voltar pra Pasàrgada. Eu prefiro as nuances e os conflitos, ponto.

Ademais o tal texto cita muitas coisas que - confesso, apesar da ira - sao verdadeiras: a coisa de sair do proprio mundinho, de descobrir outras perspectivas, de se "desenraizar". Acontece que isso nao tem nada a ver com a Europa ou com o Brasil, tem a ver com o fato de experimentar novas coisas onde quer que vc và, e de onde quer que vc venha. O problema do texto citar essas coisas é que ela bota tudo isso na conta de coisas boas da Europa, e isso NAO é uma coisa boa da Europa. Sair da zona de conforto é uma coisa otima, mas vc pode ir pra qualquer lugar experimentar isso.

Mas enfim, tem também a questao do mundinho em questao. Como jah dizia o poeta, "se o cara nasce mané, cresce mané", e continua mané das zoropa ou anywhere else.

Vamos acompanhar como a pessoa descreve de que mundo ela vem:

Segundo ela, a Europa é tao legal pq ela aprendeu a respeitar diferenças.

Minha primeira reaçao foi, "Sério que ela diz que vem do mesmo pais que eu? Sério que a Europa é tolerante com as diferenças?"

To-le-ran-te com as di-fe-ren-ças?

Ok, falando um pouco mais sério. Eh tao OBVIO que ser tolerante com as diferenças é uma questao de ética pessoal, que vc aprende tentando ser uma pessoa melhor, que eu fiquei chocada de uma pessoa colocar isso num antagonismo Brasil x Europa. Se sua mae nao te deu educaçao, tenha olhar pro lado e entender o coleguinha. Nao precisa atravessar o atlântico.

Dai ela diz que aprendeu na Europa que é normal morar no mesmo prédio que o motorista de caminhao e comer no mesmo restaurante da faxineira.

Deu pra perceber essa coisa de mundinho? A pessoa acha que no Brasil a gente vive num sistema de castas e nao estava habituada a se misturar com o motorista ou a faxineira.

E ao invés de culpar o mundinho dela, ela culpa o Brasil. Tao mais simples. Fico me perguntando qual tipo de equaçao esquizofrênica a pessoa consegue fazer na cabeça pra botar violência, insegurança, nao me misturo com a faxineira, assim, num saco soh, como problemas do Brasil, e achar que o fato de ela nao ser beneficiada pelo sistema de saude na Europa - por ser estrangeira - é soh um detalhe que nao atrapalha a tolerância deles com a diferença. Pq a Europa jà tem graminha verde e velhinhos felizes gente, como é que eles iam ser malvados?

Enfim, nao vou comentar o texto todo pq pra isso eu ia ter que relê-lo. Lembro desses detalhes pq foram o que mais me chocaram e pq eu publiquei o texto no meu facebook pra poder xoxà-lo publicamente, e foram essas coisas que chocaram meus amigos tb. Pra mim gente que pensa assim sao tipicamente as mesmas pessoas que adoram dizer "o terceiro mundo nao me merece".

Eu nao tô defendendo o Brasil soh por defender, eu soh acho que isso nao sao motivos vàlidos - vou tentar fazer um texto sobre as minhas razoes pra ficar ou pra voltar, pode ser que algumas pessoas achem babaca tb, o que faz parte do direito inalienàvel de julgar-com-os-proprios-botões.

Cà com os meus botões, eu julgo pessoas assim com adjetivos tao severos - "babaca" sendo um dos mais bonitos - pq é simplesmente muito fàcil nao gostar da pobreza. Eh muito fàcil achar a Europa linda. Nao requer nenhum esforço de reflexão. Nao precisa quebrar a cabeça tentando mudar a propria realidade, ou ficar se perguntando pq as coisas sao assim, basta mudar pro lugar mais bonito. Là, a vida é disney.

Enfim, por ultimo, deixo uma bela pérola da autora do texto: "nem tudo sao flores, nao sou casada com um espanhol...".

Sem mais.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

insônia


A semanas sem dormir direito. Logo eu, gente. Sempre me gabei de ter um sono fuderoso, de poder dormir em qualquer lugar (sério), de ter o relogio biologico de um gato - aliàs nesse sentido eu era o gato da casa, pq a Faye acorda a gente de manhã cedo até em feriado. Em dia de semana ela começa a miar quando o despertador toca, mas nos fds às 08h da manhã e ela jah està acordando a gente, miando, andando por cima, cheirando a cara pra ver se a gente està vivo ou em coma.

Mas bem, 02 da manhã e eu ainda estou ligada. Tenho tentado fazer coisas uteis, tipo trabalhar na dissertaçao, mas minha cabeça està em modo zumbi - sabe a irracionalidade do sono? pois é, tipo isso, mas SEM O SONO! E nao consigo elaborar um projeto que preste. Fato é que eu ando preocupada com a maldita, mas nao sei se a insônia vem disso.

Comofas pra sair dessa vida, Johnny?

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Bial sobre estupro: "O amor é lindo!"

Eu nao ia falar no BBB esse ano. Eu jah escrevi hà alguns anos pra falar mal, mas enfim parece que virou hype pedante falar que BBB emburrece e blablabla whiskas sachê. Eu nao costumo assistir e nao gosto do programa, ponto, mas esse ano eu ando meio frenética pq conheço uma menina que està participando. Nao vou dizer que sou AMYGA dela, a gente nao se fala hà um tempão e eu achei super cara-de-pau algumas pessoas no facebook e afins publicando fotos junto com ela soh pra mostrar que é amigo de "celebridade" - eu e ela temos TROCENTOS amigos em comum, entao imaginem como ficou meu facebook! Com direito a professores respeitàveis de Ciência Politica e Sociologia publicando fotos e tudo mais! O mundo està louco, gente, mas enfim, eu compartilho até certo grau da comoçao geral de ver alguém na tv que eu realmente conheço, eu jah vi essa pessoa falando/ se mexendo/ existindo e eu sei que ela é de verdade e està na tv... me pergunto se isso é coisa de mineiro e nosso bom jeito capial (~jeca~) de disconfiar desses bichos tecnologicos... mas enfim, nao é da minha comadre bêbêbê que eu queria falar mas do que rolou là de sàbado pra domingo e que nao tem nada a ver com ela:

Uma menina, Monique, bebeu muito na festa e acabou beijando um cara, Daniel. Acontece que ela apagou de bêbada e o cara se aproveitou pra abusar dela debaixo do edredon. No dia seguinte a menina nao se lembrava do que tinha acontecido, convocam ELA no confessionàrio pra perguntar o que tinha rolado e perguntam se foi consensual, ela disse algo do tipo "foi consensual mas eu nao lembro". Saindo do confessionàrio ela foi direto perguntar pro cara o que tinha rolado e ele JUROU que soh deu uns dois beijos nela, ou seja, ela nao tinha idéia do que tinha acontecido, ele mentiu pra ela e diante da desconfiança dela (de ter sido convocada pra falar do assunto, ora bolas), ele disse pra ela nao esquentar a cabeça que era tudo ~boato~.

E que isso quer dizer? Que rolou um estupro* ao vivo pelo Pay-Per-View e a Globo nao fez NADA pra impedir. Pior, nao expulsou o cara. Pior, a Globo disse que a menina disse que foi consensual entao tà tudo bem - o fato de ela nao lembrar é irrelevante! Pior, na ediçao ao vivo domingo à noite cortaram todas as cenas em que ela pergunta pro cara o que aconteceu, mostraram ela bêbada na festa e em seguida ela beijando o cara e o Bial falando O AMOR EH LINDO. Obviamente nao mostraram a cena do abuso, com ela desacordada.

Eu fiquei muito chocada com essa historia, muito. Jah pensaram nos precedentes que isso abre? A forma escrota como a Globo tentou justificar o que todo mundo na internet està comentando é ainda mais revoltante - que outra coisa aquelas cenas da menina bêbada que passaram na ediçao de domingo poderiam querer dizer, além de "olha là, a menina tava bêbada, c* de bêbado nao tem dono, nao sabe beber tem que beber leite". Porque a culpa é sempre da vitima, né. Ela que bebeu. O cara poderia simplesmente nao ter estuprado, mas nao!, foi ela que bebeu, a culpa é dela!

Tem muita gente falando disso muito melhor do que eu, mas eu fiquei tao mal que eu precisava xingar muito no twitter (quem nao tem twitter caça com blog, ora bolas).

Dos vàrios textos na net falando do assunto, deixo o link pra esse aqui pq têm um link pra vàrios outros no final, se alguém quiser saber mais.

*Soh pra esclarecer, nao precisa haver penetraçao pra haver estupro, basta haver abuso sexual. E o fato de ela estar apagada de bêbada indica que ela nao podia oferecer resistência, e obviamente nao pode ter sido consensual (enfim, o texto que eu indiquei esclarece muito melhor do que eu).

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

la usurpadora... yo!

Tem gente que nao acredita quando eu falo que minha vida é uma novela mexicana. Mas é sério! Depois de sofrer mais que a Maria do Bairro com a prefeitura de policia, agora o roteiro mudou.
Soh que primeiro eu tenho que explicar o contexto, entao senta que là vem a historia:


Eu trabalho desde setembro como "assistente" (~secretària) de uma assistente social que é cega. Vàrios documentos que ela recebe nao estao em braile, entao eu leio pra ela, e também a ajudo quando ela precisa escrever alguma coisa - embora ela seja super autônoma e o pc dela tenha sintetizador vocal. Tem vàrias coisas que ela escreve sozinha, principalmente notas pessoais que ninguém mais vai ler; quando sao cartas, ela pede pr'eu ver se tem erros, e quando ela precisa fazer relatorios ela prefere me ditar do que escrever sozinha (cada um tem seu processo de escrita né, tem gente que nao suporta escrever diretamente no pc). Enfim, fora essas atividades de leitura/ escrita, eu também ajudo a calcular ajudas sociais. Trabalhamos numa escola profissionalizante de ensino médio e alguns alunos podem ter ajuda com os custos do transporte, da cantina, etc. Mesmo que o Sarkozy tenha reduzido drasticamente essa ajuda, ela ainda existe. Ela recebe alunos que tem algum tipo de problema (social, familiar, etc) e embora eu nao esteja presente nesse momento eu obviamente fico sabendo dos casos, jah que ajudo ela a escrever os relatorios e etc. Quando ela falta e algum aluno vai procurà-la, acontece de às vezes eles se confiarem a mim, mesmo sabendo que eu nao sou a assistente social. Eu nao dou nenhum conselho nem tomo nenhuma providência séria, apenas tomo nota pra poder contar depois pra minha chefe, que vai depois convocar o aluno pra saber melhor o que està acontecendo. Enfim, minha chefe nunca pareceu ser contra isso. Acontece que ela precisou fazer uma operaçao e se ausentar por um mês e meio, ela volta no começo de fevereiro. Até là, eu tenho cumprido meus horàrios mesmo se nao tem muita coisa pra fazer - algumas coisas administrativas eu posso adiantar, mas outras, como os relatorios, eu nao estou habilitada a fazer. Alguns alunos foram me ver, mas bem poucos. Acontece que ontem veio uma menina cujo caso é bem grots. Hà vàrios casos grots, mas o dela é o pior de todos. Nao vou dar os detalhes aqui, eu juro que nao é fofoca pela metade (que eu acho abominàààvel!), mas é que é meio anti-ético contar isso num blog.
Ontem ela foi me ver pra me contar que tinha faltado no estàgio obrigatorio e que ela nao queria mais voltar pra casa. Ela disse que nao se sente bem em casa e que nao adianta anda ir ao estàgio se ela nao està bem. Liguei pro estàgio pra justificar a falta dela, mas fora isso ela insistia que nao ia voltar pra casa e ia dormir na rua. O que eu podia fazer? Fiquei meio desesperada, sério. Liguei pro enfermeiro escolar, pq ele pode eventualmente tomar providências (os tais relatorios) e, ora bolas, pq ele é um profissional e sabe lidar com situaçoes assim. Ele chegou à tarde, mas a menina nao quis contar muita coisa pra ele. Eu contei em off - eu sei que existe o "segredo profissional", mas eu estava sozinha e precisava de conselhos - mas como nao foi ela mesma que contou, ele nao poderia fazer muita coisa. Ele me aconselhou de ligar pra uma instância superior, tipo a chefe das assistentes sociais escolares. Liguei e contei o caso todo. Dai a muher ficou mais preocupada com o fato de EU estar trabalhando no escritorio da minha chefe ausente, do que com o caso da menina! O caso da menina, que tava ameaçando DORMIR NA RUA e é menor de idade, ela resolver rapidinho: nao podemos mandar assistentes sociais pra vcs, se vira nos 30 ai com o enfermeiro. Mas o meu caso, nossa, que absurdo que eu estava recebendo alunos!! Disse pra ela que os alunos sabem que eu nao sou a assistente social, e que isso de eles irem ao escritorio era muito pontual. Mas ela ficou cabreira, ligou pro enfermeiro pra que ele faça o relatorio sobre o caso da menina, e claro, pra comentar que nao era normal o que eu estava fazendo, sobretudo pq eu ficava sabendo de casos "confidenciais". O enfermeiro, super charmosao aliàs, veio me ver e me aconselhou a nao receber mais alunos - nao que ele achasse errado, aliàs ele disse que eu agi bem no caso dessa menina, mas pq isso podia dar problema pro meu lado. Eu poderia ser acusada de me passar pela assistente social, e eu poderia ser condenada por usurpaçao de cargo!

OMFG!

Osso, hein. Ia ser dificil uma coisa tao séria acontecer, mas a palavra "usurpadora" ficou ecoando na minha cabeça. Fui junto com o enfermeiro conversar com o diretor da escola sobre "minha situaçao", e ele meio que tava se lixando pro que a chefona das assistentes sociais estava pensando. Ele disse que poderia eventualmente me repreender se eu soubesse do que acontecia com a menina e nao tivesse feito nada, o que nao foi o caso. E perguntou pro enfermeiro se a tal chefona tava sabendo que minha chefe é cega e eu eventualmente tenho orelhas e vou ficar sabendo dos casos, ora bolas. Isso tranquilizou todo mundo, inclusive o enfermeiro que tava preocupado com o que poderia acontecer.
No final das contas eu fui embora sem saber direito o que aconteceu com a menina, pq o enfermeiro fez um reatorio pra Brigada de Menores mas ainda nao tinha uma resposta concreta.
Hoje minha chefe ligou. Como ela tinha operado, eu tava esperando ela fazer contato primeiro. Contei o caso e ela ficou puta com a chefona. Realmente é idiotice, mas enfim, também é verdade que eu nao sou habilitada, e eu nao quero que o meu fique na reta. Agora nao vou mais receber alunos enquanto ela estivera usente, o que quer dizer que eu tenho ainda menos coisa pra fazer do que antes. Mas enfim, eu perguntei pro diretor o que eu podia fazer e ele disse "nada", entao agora eu estou legitimamente fazendo nada de 09h30 às 14h.

Pra ler ouvindo:

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

de raps e estrangeiros

Um dos piores vicios dos maus escritores é supor que o leitor sabe perfeitamente do que ele està falando. Eu tenho uma tendência enorme a escrever coisas cheias de a priori's e soh depois de publicar o ultimo post é que eu fui reparar algumas coisas: tipo a associaçao feita entre estrangeiros e rap. Algo que faz sentido na minha cabeça, mas que eu joguei no texto de um jeito bem desleixado. Ficou parecendo que soh estrangeiros fazem rap. Pior, ficou parecendo que os caras do clipe são estrangeiros. E eu sou a primeira a achar absurdo a insistência francesa - imagino que em outros lugares tb, mas soh conheço a França - de querer colocar os imigrantes e descendentes no lugar deles: o lugar de origem, que não é a França. "Oficialmente" eles nao fazem isso, pq a Republica Francesa nao diferencia seus cidadãos de acordo com cor, a ethnia ou a origem (meu koo que nao diferencia, mas esse é o discurso em que eles querem acreditar). Mas os descendentes de imigrantes - nascidos na França, e portanto cidadaos franceses - são muitas vezes vistos e tratados como estrangeiros. Sabe quando no Brasil a gente chama o cara de "turco" pq o pai dele é daquelas bandas, mas apesar do apelido, pra gente, ele é brasileiro? Aqui esse cara é considerado turco, mesmo tendo nascido aqui (ou marroquino, ou whatever)**. Muitas vezes eles é que reivindicam isso - é o caso dos membros do grupo de rap que eu postei, e foi por isso que associei eles a "estrangeiros" - mas eles nasceram na França. Sao franceses, e nao "estrangeiros" - ademais, uma reivindicaçao identitària nao anula necessariamente outra, e eles podem muito bem se sentir franceses TAMBEM. A denuncia da musica que eu postei - e nao precisa saber francês pra entender, a mensagem é bem visual - é que existe uma "cidadania de segunda classe" reservada aos imigrantes e seus descendentes; ele nao estaria protestando contra isso se nao se sentisse no direito, enquanto francês, de ter oportunidades de vida mais igualitàrias.

** Claro que isso depende do pais de onde o cara é. Europeus hoje sao muito mais facilmente assimilàveis do que os descendentes de àrabes. Os asiàticos ficam num limbo que eu nao consigo identificar muito bem. O mais engraçado é que hoje existe todo um arsenal de argumentos culturalistas pra justificar o racismo e/ou a hostilidade com os àrabes: eles sao de cultura musulmana, incompativel com a matriz francesa, de tradiçao catolica. Dai quando vc lê relatos sobre a imigraçao polonesa (acho que em fins do séc XIX/ inicio do XX), acha os seguintes argumentos: mas os poloneses sao catolicos demais, a França é laica! Impossivel! - Ou seja, os mesmos argumentos culturalistas, soh que com o senso invertido. Eles gostam de se dizer laicos, mas quando convém eles podem ser bem catolicos.

Enfim, nao quero dizer que a historia se repetirà e que os musulmanos serao assimilados como os europeus mas esse tipo de coisa é instrutivo, especialmente pq algumas pessoas aqui parecem pensar que os europeus foram assimilados imediatamente e que os musulmanos é que sao os encrenqueiros da historia. Belgas, italianos, poloneses, todos eles foram alvo no passado da furia dos operàrios franceses que os acusavam de roubar empregos.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

rap francês, oh oui!

Jà disse por aqui que adoro as expressoes estrangeiras do francês, também jah comentei que adoro giria de malaco. Pra juntar as duas coisas - estrangeiros e malacos -, um pouco de rap francês. Adoro essa musica! Eh meio antiga mas é clàssica.



Também adoro o fato de ela quebrar TODOS os clichês sobre a França. A França é isso do clipe, gente. Claro que nao é soh isso, assim como também nao é SOH Champs Elysées - filmes do Godard - conversas intelectuais em cafés. Aliàs, vàrios franceses que eu conheço nem conhecem Godard direito; soh pra comparar com o Brasil, sabe o Cinema Novo e o Glauber Rocha? Eh super legal e tal, pras pessoas que gostam de cinema é um referencial essencial, mas nao é todo mundo que conhece, nao é? Entao.

Eu demorei a admitir, principalmente pra mim mesma, que eu gosto da França. Em grande parte pq eu odeio paga-pau da França e odeio essa visão romântica (e falsa) que se vende em muitos lugares, principalmente no Brasil. Algo mais ou menos assim :

(acrescentem o livro do Camus debaixo do braço)

A França é muito mais interessante do que isso, e uma das coisas interessantes é a dinâmica cultural da qual as migrações fazem parte.
Claro que em relação à imigração tem coisa paia também, as discriminações, os preconceitos, as reações de direita, mas isso é coisa da França eXcrota que eu odeio - como eu também jah disse, um dia HEY de conseguir me explicar sobre essa relaçao de amor e odio. Um dia.